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quinta-feira, 7 de março de 2013

O que são “Estudos de Gênero”?


Tela de Steve Gribben

O que são “Estudos de Gênero”?



Durante muitos séculos as mulheres eram vistas somente como órgão reprodutor, mães amorosas e esposas dedicadas. Eram impossibilitadas de exercer participação na história, de conquistar espaço e interagir de acordo com a sua maneira própria de ver o mundo, porém desejosas de fazê-lo, foram à luta, unindo forças no chamado “movimento feminista” que aos poucos ganhou forças, explodindo nas décadas de 60 e 70.
Betty Friedan – precursora do conceito de gênero, foi uma das primeiras lideranças internacionais do movimento, defendendo o papel do trabalho criador para que a mulher, assim como o homem, pudesse encontrar-se e reconhecer-se como ser humano. Margareth Mead, uma antropóloga americana destacava o peso da cultura na determinação dos papéis sexuais e das condutas e comportamentos de homens e mulheres.
A partir daí, torna-se necessário um aprofundamento conceitual no tratamento dessas questões. Surge, então, o conceito de gênero formulado por pesquisadoras de língua inglesa, como Joan Scott e Gayle Rubin. No Brasil esta nova conceituação foi incorporada pela comunidade acadêmica no mesmo período.
O movimento feminista que era visto por muitos (e até por mulheres) como uma manifestação exagerada e fanática de busca de mudanças foi de extrema importância para as conquistas que foram alcançadas pelas mulheres nas últimas décadas.
Depois dessas grandes mobilizações feministas as discussões transferiram-se das ruas para as salas de aula das universidades. Assim surgiram os chamados Estudos da Mulher que posteriormente passaram a ser chamados de Estudos de Gênero, pois, apesar de todas as conquistas, as relações de desigualdade sofridas pelas mulheres na sociedade capitalista aumentaram nos últimos anos, sobretudo nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.
Lembramos que no movimento feminista há uma diversidade de organizações e lutas, mas há também desigualdade entre as mulheres que o compõe:
·       Mulheres de classes desiguais;
·       Mulheres de raças diferentes e transformadas historicamente em desigualdades;
·       Mulheres negras, mulheres indígenas e rurais;
·       Trabalhadoras domésticas, que constituem majoritariamente a classe das mulheres pobres;
·       Desigualdades entrelaçadas de classe, de raça e gênero;
·       Mulheres lésbicas, que radicalizam contra as heranças do padrão heterossexual dominante;
·       Mulheres portadoras de necessidades especiais;
·       Mulheres de várias gerações que trazem os conflitos inerentes entre transmissão e reinvenção.
Essas dificuldades geradas pelo conflito das relações de desigualdades têm sido objetos de estudos em diversos setores acadêmicos – Núcleos de Estudos de Gênero (tudo o que se refere à opressão da mulher é rotulado como sendo uma questão de gênero).
“O termo gênero surgiu no mundo acadêmico no momento em que pesquisadoras feministas, buscavam, através dos chamados estudos sobre mulheres, desnaturalizar a condição da mulher na sociedade” (SIMIÃO, 2000).
Fez-se necessário encontrar conceitos que possibilitassem diferenciar o sexo - que as mulheres tinham de natural, permanente, e igual em todas as épocas e culturas de tudo aquilo que embasava a discriminação, por ser socialmente construído e, variável de sociedade para sociedade e mutável com o tempo - o gênero (SIMIÃO, 2000).
Este termo, de complexa conceituação, enfrentando oposição de alguns segmentos e angariando apoio de outros foi, aos poucos, se tornando popular dentro do mundo acadêmico e fora dele por ser capaz de se infiltrar em campos de discussões onde o termo “mulher” encontrava fortes resistências.

Os diferentes conceitos de gênero
No início, o termo "gênero" era praticamente sinônimo de "mulher". Mas como este termo teve origem no universo acadêmico acabou sendo incorporado por diversas disciplinas recebendo nuances diferentes em cada uma delas. Desta forma antropólogos, psicólogos, sociólogos, cientistas políticos foram colorindo o conceito conforme a bagagem conceitual própria de cada disciplina, surgindo diferentes leituras na interpretação de gênero: gênero como variável binária; gênero como papéis sexuais dicotomizados; gênero como uma variável psicológica, gênero como tradução de sistemas de culturas e gênero como relacional (SIMIÃO, 2000; COSTA 1994).
O que é gênero, afinal?

Segundo Sayão e Duarte (2002) a expressão "gênero" passou a ser utilizada com o objetivo de mostrar que as diferenças entre homens e mulheres não são apenas de ordem física, biológica. Assim sendo, falar de relações de gênero é falar das características atribuídas a cada sexo pela sociedade e sua cultura.
A diferença biológica passa a ser apenas o ponto de partida para a construção social do que é ser homem ou ser mulher.
Sabemos que o sexo é um atributo biológico, mas gênero é uma construção social e histórica apontando para a dimensão das relações sociais do feminino e do masculino. Uma vez que não se trata de fenômeno puramente biológico, podemos observar que ocorrem mudanças na definição do que é ser homem ou mulher ao longo da história e em diferentes regiões e culturas.
Desse modo, se as relações homem X mulher são um fenômeno de ordem cultural elas podem ser transformadas. E aqui entra o papel fundamental da educação, pois precisamos encarar a perspectiva de gênero como um dos eixos que constituem as relações sociais como um todo.

Compreendermos o conceito de gênero torna possível identificarmos os valores atribuídos a homens e mulheres bem como as regras de comportamento decorrentes desses valores. Com isso, ficam mais evidentes:
  • como esses valores e regras interferem no funcionamento das instituições sociais, como a escola, trabalho, etc;
  • como essas questões influenciam na nossa vida cotidiana;
  • nos é possível ter maior clareza dos processos que causam interferências nas relações individuais e coletivas entre homens e mulheres.

O conceito de gênero também nos possibilita refletir nas diferenças sem transformá-las em desigualdades. Não podemos permitir que as diferenças sejam ponto de partida para a discriminação. Um exemplo básico: o fato das mulheres poderem gerar filhos não é razão para que sejam consideradas superiores ou inferiores aos homens, apenas diferentes. (SAYÃO e DUARTE, 2002)



Referências Bibliográficas:
CARVALHO, M. G; NASCIMENTO, T. C. Sensibilização do público masculino para discutir, compreender e modificar as relações tradicionais de gênero. Relatório apresentado a ADITEPP. 2002. MIMEO.
COSTA, Claudia de Lima. O leito de procusto: Gênero, linguagem e as teorias femininas. In CADERNOS PAGU, vol. 2, 1994. p.141-174.
SAYÃO, Yara e DUARTE, Silvio Bock.  Relações de Gênero. Disponível em <
http://www.educarede.org.br/educa/oassuntoe/index.cfm?pagina=interna&id_tema=8&id_subtema=7>  Acesso em 05 mar de 2006.
SCOTT, Joan. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. In EDUCAÇÃO E REALIDADE. 1995. p. 71-99.
SIMIÃO, Daniel Schroeter. Gênero no mundo do trabalho. MIMEO. 2000

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