Alguma coisa na minha
infância marcou-me profundamente quanto às noites de Natal.
Foi o primeiro natal
que passamos, sem a presença alegre e brincalhona de meu pai. Meus pais haviam
se separado há pouco...
Eu, minha irmã e minha mãe ficamos sentadas, sem nada para
fazer... Moráramos em Aquidauana, uma quente cidade do interior de Mato Grosso
do Sul. E aquela noite estava especialmente quente... Não agüentando ficar
dentro de casa, colocamos cadeiras na calçada, como é costume fazer em cidades
de interior e ficamos a olhando o movimento da rua...
Lá pelas tantas, passou uma mulher, suja, descabelada e
muito bêbada... E ela vinha cantando alto: “Eu bebo sim, estou vivendo... Tem
gente que não bebe e está morrendo...”
Ela então parou diante de nós e continuou a cantar...E
depois, olhou para minha mãe e disse: “Porque esta carinha tão triste? Sorria..
a vida é bela...”
Eu corri para dentro e fui chorar escondido da minha mãe.
Não a queria por mais triste ainda.
Acho que, os casais, não precisam ficar eternamente juntos
se o amor deixou de existir, mas se eles tem filhos, precisam ficar eternamente
amigos.
As crianças não podem e não devem pagar pelos erros dos
adultos. São inocentes. Precisam dos dois, amam os dois. Não podem ser forçadas
a amar somente a mãe, porque o pai cometeu erros, ou vice-versa... Eles não
podem ser colocados nesse campo de batalhas, sendo tão puros de coração...
Enfim, foi uma noite horrível e inesquecível.
Cresci, vivi muitas coisas: momentos alegres e tristes, mas
sobrevivi. Continuo amando minha mãe e meu pai. Sou louca por eles.
Sou feliz, tenho dois filhos, que são meus tesouros. E durante
muitos anos tentei preservar a imagem de sonhos do Papai Noel e tudo o mais...
Mas, eles também cresceram...
Hoje eles têm outros sonhos... E pesadelos também, pois, na
noite de Natal, eles são levados à casa do pai, não ficam com a mãe... Pois foi
esse o combinado feito entre os “adultos” durante a separação.
E, meu natal que já era sem graça, ficou pior ainda!
Uma outra coisa que sempre me incomodou muito era ver aquela
mesa farta dos mais vários pratos e frutas, que, por serem em quantidade sempre
abundante, sobravam sempre... E ao olhar para aquela mesa, eu sentia um nó na
garganta a ponto de não conseguir comer direito e nem sentir o sabor dos
alimentos. Só conseguia pensar nas pessoas que naquele mesmo momento, não
tinham ninguém para abraçar, nenhum presente para receber e, muito menos, algo
para comer.
Pensava nas pobres criancinhas que acreditavam em Papai
Noel, e que haviam escrito suas cartinhas fazendo seus pedidos: patins,
bicicletas, ursinho... Um irmãozinho... Ou até uma família... E, nada recebiam,
como poderiam receber?
Também penso que o natal perdeu o sentido real. As pessoas
correm à busca de presentes, com listas nas mãos para não se esquecerem de
ninguém, gastando, muitas vezes, o que não poderiam...
E o natal virou uma
festa comercial. Muitos, nem ao menos se lembram que essa data, apesar de
simbólica, deveria ser para relembrar o nascimento de Cristo, nosso Salvador...
E refletir sobre sua vida aqui na Terra, e sobre as nossas atitudes que por
vezes são tão incoerentes com o que deveriam ser...
E é por essas e outras, que não não gosto das noites de natal.
Mas, colocando meus sentimentos e ressentimentos à parte, desejo sinceramente,
que a Noite de Natal seja para você, uma noite especial, enriquecedora e repleta
de alegrias. E que estas alegrias perdurem, não somente por todos os dias de
2012, mas também em 2013, 2014, 2015...
Carinhosamente,
Sandra L. Felix de Freitas