Radio Grooveshark

terça-feira, 22 de abril de 2014

Auto-retrato



Auto-retrato

por Sandra L. Felix de Freitas®


Do tudo, sou o nada.

Da flor, o espinho.

Na guerra, sou a paz.

Da amizade, o carinho.


Da riqueza, a pobreza.

Sou escrava e capataz.

Na dúvida, a certeza.

Das folhas, o outono.


Da primavera, o beija-flor.

No escuro, sou lápis de cor.

Da mãe, sou o desgosto.

Dos filhos, o oposto.

Do marido… o recosto.


Do corpo, sou o cansaço.

Da saudade, o abraço.

Do fogo, sou paixão.

Da paixão, sou amor.


Do amor, a alegria…

Mas também sei ser dor,

desalento, saudade —

e da saudade, a solidão.


Da fantasia, sou a verdade.

Da verdade, a ilusão.

Do equilíbrio, o destoar.

Na noite silenciosa,

sou canção de ninar

de uma mãe amorosa.


Mudo de personalidade

conforme o momento

ou a necessidade.


Mas em nada diminuo

nem aumento.


Sou mulher recatada,

mas quando apaixonada —

torno-me indecente,

incandescente,

delicada e inconsequente.


Da festa, sou lembrança ofuscada.

Do arco-íris, a cor reluzente.

Na multidão, sou ninguém.


Da poesia, sou loucura e refém.

Do poeta, os devaneios.

Do biscoito, o recheio.

Da vida, nuvem passageira.


E na profissão…

Enfermeira!


2005

Nenhum comentário:

Postar um comentário