Auto-retrato
por Sandra L. Felix de Freitas®
Do tudo, sou o nada.
Da flor, o espinho.
Na guerra, sou a paz.
Da amizade, o carinho.
Da riqueza, a pobreza.
Sou escrava e capataz.
Na dúvida, a certeza.
Das folhas, o outono.
Da primavera, o beija-flor.
No escuro, sou lápis de cor.
Da mãe, sou o desgosto.
Dos filhos, o oposto.
Do marido… o recosto.
Do corpo, sou o cansaço.
Da saudade, o abraço.
Do fogo, sou paixão.
Da paixão, sou amor.
Do amor, a alegria…
Mas também sei ser dor,
desalento, saudade —
e da saudade, a solidão.
Da fantasia, sou a verdade.
Da verdade, a ilusão.
Do equilíbrio, o destoar.
Na noite silenciosa,
sou canção de ninar
de uma mãe amorosa.
Mudo de personalidade
conforme o momento
ou a necessidade.
Mas em nada diminuo
nem aumento.
Sou mulher recatada,
mas quando apaixonada —
torno-me indecente,
incandescente,
delicada e inconsequente.
Da festa, sou lembrança ofuscada.
Do arco-íris, a cor reluzente.
Na multidão, sou ninguém.
Da poesia, sou loucura e refém.
Do poeta, os devaneios.
Do biscoito, o recheio.
Da vida, nuvem passageira.
E na profissão…
Enfermeira!
Nenhum comentário:
Postar um comentário