A Última Luz Guardada

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A Última Luz Guardada


Ela se mistura à multidão,

mas carrega, no peito,

a velha sensação

de não ter direito

ao simples pertencimento.

Ora caminha em brasas,

ora sobre ovos.

Tamanho é o medo de ofender,

ou de, sem querer, perder —

até mesmo aquele que já se afastou.

Então, mesmo com tanto a dizer

Sentiu sua dor e a calou. 


Mas o que ela pensou

que da vida receberia?

O perdão?

O aconchego?

O reconhecimento?

Nada disso merecia —

ao menos é o que ela repetia.


De tudo aquilo que um dia

prometeu que faria,

falhou miseravelmente.

Esqueceu-se de que o amor,

quando demais, sufoca.

E hoje, os que ama,

aos poucos, se deslocam.


Ainda há alguns

que insistem em ficar,

que oferecem cuidado,

um gesto, um olhar.

Mas ela se sente um fardo —

peso difícil de suportar.


E se pergunta:

será por amor,

ou apenas medo da culpa?

Pensa, às vezes, em partir,

para o peso reduzir,

para o silêncio dormir.


Ela olha para cima,

com os olhos marejados,

sonhando que as estrelas

são seus mortos calados.

Cada ponto no escuro

é um nome que apagou,

uma saudade que grita,

um amor que a vida levou.


Sua solidão —

mesmo quando acompanhada —

aperta o peito,

corrói a alma cansada,

e apaga, aos poucos,

a última luz guardada.


Sandra L. Felix de Freitas 

Outubro de 2025

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