Zolpiden
De repente, tudo escureceu.
Sem razão aparente, tudo perdeu o sentido.
Já não havia alegria, tampouco disposição
para mexer o corpo,
para mover a alma.
De repente, tudo perdeu o brilho.
Não havia nuvens espessas,
mas o céu pesava como chumbo.
Era dia e era noite,
era refúgio e martírio,
amparo e açoite.
E no meio desse breu,
surge um recurso,
não como cura,
mas como porta estreita
para longe do barulho do mundo.
Uma breve fuga,
da ausência de coragem
de enfrentar o vazio
do dia a dia.
E, de repente, fez-se caverna —
um silêncio denso,
lugar onde ninguém entra,
onde até os próprios pensamentos
andam descalços,
Zolpiden.
Mas o alívio é curto,
como sopro que apaga
e reacende a mesma dor.
Ainda assim, há algo —
um fio tênue, quase invisível —
que insiste em não romper.
Um fio teimoso,
delicado, mas obstinado,
que recusa o fim.
Talvez seja memória,
talvez seja fé,
talvez seja apenas
uma dobra do tempo,
um quase nada secreto,
onde o coração se esconde
quando não sabe continuar.
Sandra L. F. de Freitas
24/11/2025

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