Ser Mãe

 



Ser mãe é mais que querer.

É aliança que o céu escreveu,

renúncia em silêncio, entrega sem fim.

É aceitar o dever — não por prêmio,

mas pelo dom de amar.


Ser mãe é lançar-se inteira

ao pacto silencioso,

compromisso com a vida em mudança,

com a integridade e esperança.


Ser mãe é abrigo em tormenta,

raiz que sustenta, braços que acolhem,

olhos que cuidam, beijos que curam,

coração que ora se abre,

ora se encolhe —

corrige, mas não censura.


Mas ser mãe… dói.

É dor que modela a alma no ventre,

a pele que se desfaz sem cautela

em linhas rubras de sacrifício:

estrias que marcam amor sem medida.

As estrias da criação.


A gestação é rito e provação:

náuseas, vertigens,

intestinos em rebelião.

Fraquezas que derrubam o corpo —

mas não sua missão.


E quando o ventre anuncia o fim,

a dor se espalha: da barriga ao resto do corpo. 

No limiar do parto, o corpo treme

em contrações que parecem rasgar

e tiram tudo do lugar.


Ser mãe é sentir medo

no momento que deveria de felicidade.

Mas em volta, poucos percebem

que tudo o que ela precisa de verdade

é sentir-se acolhida.


Tornar-se mãe é sofrer em silêncio,

engolir o grito que não pode ecoar.

Vem a violência calada

das mãos que invadem sem licença,

de palavras que ferem a esperança.


Ser mãe nesse instante

é fingir coragem com o coração em fuga.

É ouvir, de quem pouco compreende:

“Você escolheu.”

E calar-se — submissa,

até o bebê nascer.


Então começa um novo ciclo:

choro, leite, fezes —

ritual que não cessa.

Ela cuida, se doa,

e a cada dia, recomeça.


O amor é seu combustível.

Mesmo quando o mundo pesa,

quando tudo soa impossível,

ela prossegue.

Ela crê.

Ela ama.

Ela consegue.


Mas os filhos crescem…

e às vezes esquecem

das mãos que os ensinaram a andar,

das noites sem dormir,

dos passos que ela deu para que pudessem correr.


Na adolescência,

se acham autossuficientes.

Na vida adulta,

os papéis se invertem:

ela vira alvo de correções,

de desprezos sutis,

como se fosse aluna

incapaz de aprender.


Ela engole os desaforos,

silencia. 

Rende-se à gentileza forçada,

chora por dentro do riso.

finge paz para não perder o afeto,

que sonhou colher na velhice.


Porque ser mãe

é renúncia com esperança.

É amar com entrega.

É esperar,

ainda que em silêncio,

que o amor um dia retorne —

não por dever,

mas por lembrança

de tudo o que foi, é e será.


E por isso ela espera —

cada vez mais calada —

que um dia seus rebentos

aprendam a ouvi-la

sem críticas ou julgamentos.


Sandra L. Félix de Freitas

08 jun 2025


Imagem gerada por IA


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