A teimosia de continuar
A teimosia de continuar
A dor de um sorriso
triste, mas indispensável —
não por máscara,
mas por sobrevivência
é amor-próprio, à força aprendido.
Um sofrer assumido
que sustenta o corpo ereto,
equilibrado no alívio manso
da lágrima que rompe o medo
e desce pela face
como mal guardado segredo.
A mente, inquieta,
persegue memórias,
revirando os cômodos da alma,
tentando entender os silêncios,
palavras a mais,
ou ditas tarde demais,
gestos que não vieram,
aquilo que foi
e o que nunca chegou a ser.
O tempo passou sem pedir licença.
Tudo mudou de lugar.
Nada parece fazer sentido,
mas tudo explica
as distâncias,
as indiferenças,
as ausências que ecoam.
Houve dias de esforço,
de tentativa de agradar,
de caber,
de ser perfeita ao olhar.
Não foi suficiente.
A alegria restante
murchou em silêncio.
Perdeu o vão, o voo e o norte,
e caminhou perigosamente
flertando com o fim.
Achou ter fechado os olhos
por um sopro de tempo,
mas foi o bastante
para perder o momento
em que tudo se quebrou.
Hoje adapta-se
ao espaço mínimo que lhe dão.
Cada olhar é lâmina,
cada riso, exclusão.
Refugia-se na solidão,
aprende a suportar o descaso.
Maldito coração,
teimoso e fiel,
que insiste em continuar
quando até a razão
se sentou cansada
no chão das explicações.
Sandra L Félix de Freitas

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