Da Vida Que Não Vivi
DA VIDA QUE NÃO VIVI
Amanheceu.
Mais um dia começa.
O sol desponta ao longe,
tímido… sem pressa.
Nuvens pesadas vestem o céu
com um manto sombrio
que chora em silêncio
seu pranto frio.
A chuva fina sempre me traz
esse velho sentimento:
vazio… perda…
ausência de alento.
Nessas horas percebo
como me sinto perdida —
caminhando sozinha
num canto esquecido da vida.
Afogo-me, lenta e dolorosamente,
no mar escuro das lembranças
que, até hoje, não sei
se foram luz ou sombras.
Fui apenas vivendo,
deixando a vida passar
sem saber
se era feliz.
Hoje, presa no tempo,
no espaço,
acordei com as memórias
da infância…
Sonhava ser tanta coisa:
bailarina,
flautista,
pianista…
ficar bonita…
Queria conhecer o mundo,
atravessar desertos,
ver de perto Luciano Pavarotti,
viajar no espaço,
ser astronauta…
Mas descobri,
com dor calada,
que a saudade mais funda
é da vida não vivida.
Pergunto ao meu coração:
seria capaz
de voltar no tempo
e, desta vez,
fazer tudo de novo —
sem errar?
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